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Pediram-me para, em Berlim, fazer na Academia das Ciências uma exposição sobre a situação política portuguesa, as características da Revolução do 25 de Abril, sua evolução e perspectivas futuras. Embora soubesse que esta Academia muito pouco teria a ver com o tipo de academias de ciências do mundo ocidental, a verdade é que, independentemente da responsabilidade de falar sobre este tema para um público altamente qualificado, ainda sentia subconscientemente um certo preconceito contra a instituição.
Tais dúvidas logo se dissiparam quando me encontrei frente a frente com um público que nada tinha a ver com o tipo mumificado das nossas Academias, símbolos conservados em naftalina de uma forma caduca de anti-cultura.
Nada do cerimonial esclerosado por fora, correspondendo a uma esclerose interior, das sessões a que assisti na minha juventude, na Academia de Lisboa. Aquele era o conjunto dos trabalhadores das Ciências e das Letras, homens integrados no processo histórico do seu país, vasto e dinâmico laboratório da grande batalha do bem-estar do povo. Por isso, juventude e informalismo, força de trabalho criadora e não ridículas e pretenciosas múmias do elogio mútuo e de um academismo frustre.
Daí e do grande interesse mostrado pelo nosso país, o ficar-me uma das mais emotivas recordações da RDA.
A actual Academia das Ciências da RDA é a continuadora da Academia Alemã das Ciências, fundada por Leibniz em 11 de Julho de 1700. Nessa viragem histórica do século XVII para o XVIII, os mais significativos representantes do iluminismo e do enciclopedismo viraram-se para um desenvolvimento activo das ciências em benefício da colectividade e do momento histórico que viviam.
Durante o século XVIII, essa concepção humanista, representada sobretudo por um Humboldt, desenvolveu-se e manteve-se.
Com a revolução de Outubro na Rússia, assistiu-se também na Alemanha a uma tentativa de libertação das ciências do predomínio do capitalismo. Também na Academia, a ciência e a investigação se colocaram ao serviço da comunidade.
Em 1945, assiste-se à grande mutação histórica no território alemão que é hoje a RDA Transformação consolidada com a criação, em 1949, do novo estado — República Democrática Alemã.
Durante este período, há uma total reestruturação da Academia e esta passa a colaborar no desenvolvimento da nova sociedade sem classes.
Em 20 de Maio de 1969 foram aprovados os estatutos que fixaram os trabalhos e a sua função na sociedade socialista desenvolvida.
A Academia propõe-se, então, orientar todas as suas capacidades para o grande objectivo da construção da RDA, de modo a pôr ao serviço da sociedade socialista todas as suas potencialidades no campo da ciência e da investigação que, juntamente com as universidades, representa uma força extraordinária no campo da investigação e da pesquisa, de alta importância para a continuidade do país. A Academia, que festeja este ano os 275 anos, tem 304 membros que colaboram activamente no planeamento geral da sociedade socialista. Tem seis grupos diferentes de pesquisa, trabalhando em campos diversos como a física, a química, a biologia molecular, a cosmonáutica, a matemática, a estatística e a mecânica, a cibernética, a electrónica, a óptica, a física dos plasmas, a geofísica, a hidrografia, a metalúrgica, etc., e também a linguística, a literatura, a história e a filosofia.
É de salientar também o lugar de relevo dado pela Academia ao grupo de estudos especializados sobre o marxismo-leninismo como teoria e metodologia.
A Academia publica normalmente um grande número de trabalhos e monografias, dicionários, etc., e está a publicar um estudo detalhado sobre a história da Segunda Grande Guerra, essencial à compreensão do momento que vivemos.
Hoje, nos países socialistas, a ciência e a investigação são factores de primordial importância na construção da sociedade socialista avançada.
Em reunião do Comité Central do Partido Socialista Unificado da Alemanha, em 12, 13 e 14 de Dezembro de 1974, Eric Honecker, secretário geral do Partido, fez um informe de significado histórico que é, não só uma análise extremamente lúcida e realista do resultado dos quatro primeiros anos do plano quinquenal, mas uma previsão do que virá a ser o sexto plano no qual a ciência e a investigação virão a ter um papel cada vez mais saliente.
Verdadeiro ponto de viragem na história da RDA o novo plano terá para o povo alemão e para o mundo, para o desenvolvimento do socialismo, consequências espectaculares.
Não posso deixar de transcrever algumas passagens relacionadas com o papel da ciência e da investigação que nos dão uma nova luz sobre esta Academia das Ciências, posta ao serviço do povo, integrada na Revolução Socialista, intimamente ligada às relações de trabalho e de produção. Deitaram-se no cesto das velharias inúteis as fardas e os chapéus de «opereta académica» dos pseudo-imortais e, com elas, o espírito reaccionário e bafiento onde Suas Excelências se costumam mover.
Oiçamos Honecker:
«Hoje como ontem, continuamos a necessitar da investigação básica que se realiza em primeiro lugar na Academia das Ciências e nas Universidades e escolas universitárias, uma estruturação mais substancial e de maior alcance e, ao mesmo tempo, há que nos preocuparmos para que os seus resultados sejam rapidamente transmitidos à produção e a outras esferas sociais. Uma investigação básica de largo alcance é para o desenvolvimento a longo prazo e planificado da nossa economia nacional de significado decisivo.
«Há que seguirmos os rumos estratégicos importantes da investigação que orientará no sentido da criação das premissas científicas para obter o cumprimento da tarefa fundamental dos próximos anos. Com a concepção sobre o desenvolvimento das ciências naturais e da técnica no período que vai até 1990, prosseguimos o objectivo de garantir, pela via da intensificação, o desenvolvimento dos rendimentos económicos exigidos para o cumprimento dessa tarefa fundamental, por meio da aceleração radical e contínua do progresso científico-técnico.
«Esta concepção destina-se especialmente a assegurar a criação das premissas científico-técnicas para a satisfação das necessidades sempre crescentes da população quanto a bens de consumo e serviços de alta qualidade, para a ampliação da base energética e das matérias primas, para a elevação da economia de materiais e a diminuição do emprego do consumo específico da energia, até ao fortalecimento da capacidade de exportação da economia nacional. Juntamente com a concepção do desenvolvimento a longo prazo da investigação básica, estabelece-se uma linha de princípios para o desenvolvimento futuro da ciência e da técnica, que se oriente para uma alta eficácia económica.»
E, mais adiante, afirma que:
«Cerca de 60% do aumento da produtividade do trabalho resulta das descobertas científico-técnicas. A aplicação prática dos resultados da investigação e do desenvolvimento e a solução das tarefas para a melhoria da qualidade, produzirá benefícios de cerca de vinte mil milhões de marcos na produção industrial de mercadorias.
«Ciência e técnica passarão a ser o sector mais importante da planificação da economia nacional. Tanto em relação ao plano anual como ao plano quinquenal e à concepção a longo prazo do desenvolvimento da nossa economia.
«Da análise dos organismos competentes do governo, depreende-se que actualmente na RDA se utiliza apenas 21% das riquezas que produzem cerca de 350 matérias secundárias. Há que apressar essencialmente a sua utilização. Isto refere-se, por exemplo, à extracção de concentrados de minério de ferro das cinzas da lenhite e ao emprego mais extensivo dos desperdícios e aparas de madeira, para a produção de madeira prensada-e perfis de madeira. Neste domínio também necessitamos do progresso da investigação e do trabalho técnico.»
É extremamente importante saber que, hoje, na RDA, o desenvolvimento técnico-científico não é um sector exclusivo dos especialistas. A classe operária consolidou uma forte relação entre a produção e a ciência. E não só. Aumentou vertiginosamente o número de trabalhadores da produção que participa na inovação técnico-científica da empresa ou posto de trabalho, que pensa e reflecte as formas de melhorar os processos de produção e a qualidade dos produtos.
De entre as 155 000 pessoas que se dedicam à investigação, 80 000 têm títulos universitários e 90% trabalham ligadas à produção. Nos centros científicos estão 10%.
A Academia das Ciências da RDA tem, além dos seus 304 membros, a colaboração de 15 000 pessoas. A sua responsabilidade especial, na sua qualidade de academia de investigação numa sociedade socialista, consiste em elaborar concepções científicas a longo prazo. Por isso, tem feito estudos, por exemplo, acerca da futura política energética, da utilização das matérias-primas básicas e da defesa do meio ambiente. Cientistas dedicam especial atenção à física dos corpos sólidos e investigação de materiais e criaram, de acordo com um grande combinado, um processo para fabrico de uma chapa magnética laminada a frio e isenta de silício. Do resultado desta investigação, aplicada a toda a indústria eléctrica, obteve-se em três anos um benefício económico de 100 milhões de marcos. Podemos igualmente falar do processo para a obtenção de parafina normal a partir do petróleo com muito menor gasto de energia. Também na fabricação do cimento se diminuiu o seu custo e energia, o que trouxe largas vantagens.
Durante cerca de doze anos de investigação micro-biológica e bioquímica, o Instituto de Alimentação, adstrito à Academia das Ciências, conseguiu produzir leite materno. Este leite materno sintético, único no mundo, tirou grandes preocupações a milhares e milhares de pessoas.
Também a investigação no campo da plasmo-física, particularmente as experiências com os gases nobres, árgon e crípton, permitem criar novos aparelhos laser à base de gás nobre, com uma potência elevada. Os novos aparelhos laser terão aplicação na espectroscopia, na holoscopia, na memorização de dados, na elaboração de materiais, na informática, na transmissão de energia e na medicina.
A investigação no campo da agricultura está a cargo da Academia das Ciências Agrícolas da RDA, cujo potencial científico, tecnológico e técnico emprega, para o avanço da ciência na produção animal e vegetal, o maior esforço. Estes estudos teóricos estão ligados directamente a institutos experimentais e a cooperativas também de experiência.
Em 1970, foi criada também a Academia de Ciências Pedagógicas da RDA, cuja investigação tem servido o desenvolvimento do sistema unificado do ensino socialista, que se refere a todos os sectores e escalões do ensino, desde o jardim de infância até à Universidade.
A Academia de Arquitectura da RDA tem um vasto campo de acção que abarca o processo conceptual, técnico e tecnológico da construção e da organização arquitectónica do espaço, de acordo com o modo de vida socialista nos grandes centros urbanos e nas regiões rurais.
No campo da ciência e da investigação é fundamental a integração socialista, no âmbito do CAME.
A investigação integrada ocupa vastíssimos campos de acção, em sectores como: física atómica, meteorologia, medicina e serviço de comunicação.
O Instituto Unificado de Investigação Nuclear de Dubna (URSS), dirigido por integrados dos vários países do CAME, resolveu problemas do maior interesse comum.
No programa complexo do CAME, no campo científico, inclui-se: investigações no campo da biofísica, elevação do valor nutritivo dos alimentos, selecção e desenvolvimento de produtos híbridos e variedades de culturas agrícolas, criação de novos tipos de pesticidas e produtos fitossanitários biológicos, elaboração de medidas de protecção à natureza, mecanização, electrificação e automatização dos processos de produção na agricultura, aproveitamento completo de madeiras, investigação de processos químicos, físicos e biológicos de importantes regiões dos oceanos, investigação de mares e oceanos para aproveitamento dos seus recursos minerais, sínteses de novas substâncias plásticas e resinas sintéticas, novos catalisadores para a indústria, criação de novos materiais semi-condutores e metais de elevada pureza, investigação no âmbito das ciências da organização e direcção da cibernética, e também da energia nuclear na produção industrial para os países membros do CAME.
Não quero terminar com adjectivos. O que procurei relatar vale mais que qualquer adjectivação. Neste ano de 1975, julgo ser justo fechar este livro sobre a República Democrática Alemã com a consigna internacional que pode ser o seu símbolo
Igualdade, desenvolvimento e paz.
Inclusão | 16/02/2015 |