República Democrática Alemã - Sociedade Socialista Avançada

Alexandre Babo


O Ensino Politécnico - A Grande Alavanca do Progresso Educacional e Cultural na RDA


capa

A situação real herdada do nazismo na zona de ocupação soviética que viria a ser o território da RDA era, no que se refere ao ensino, bastante contraditória. Ali não havia analfabetismo. Muitas dezenas de anos antes, já se decretara o ensino elementar para todas as crianças. O desenvolvimento industrial forçou as classes dominantes a criar trabalhadores com um mínimo de preparação escolar. As escolas primárias existentes, embora não fossem suficientes nem com as condições próprias para uma pedagogia moderna, podiam em grande parte ser aproveitadas. Mas em que condições? As que não tinham sido destruídas pela guerra, estavam transformadas em enfermarias, em armazéns, em casas-matas.

Na reconstrução que se impunha, elas tinham que ser recuperadas para o ensino. O problema grave, fulcral, era o dos professores. Estes, na sua esmagadora maioria, tinham sido serventuários convictos do nazismo, tinham preparado as gerações nazis, tinham consciente e deliberadamente contribuído para a deformação espiritual e moral da juventude alemã. O regime nazi tinha afastado do ensino, em todos os escalões, aqueles que mesmo vagamente mantinham um mínimo de independência e de mentalidade progressiva. Havia, portanto, no momento em que o povo alemão ia destruir as raízes do nazismo, que afastar definitivamente, intransigentemente, todos os que tinham envenenado ao longo dos anos a mentalidade da juventude e não davam quaisquer garantias de recuperação, de uma tomada de consciência dos seus erros (e dos seus crimes). Assim, a reorganização do ensino iniciou-se com os raros professores que, durante o fascismo, se haviam mantido com dignidade e isenção e os que tinham sido escorraçados das escolas. Isto significou a falta de professores em cerca de 40 000 escolas.

Como em tantos outros sectores da vida social alemã, o povo e os dirigentes da classe operária, ajudados pela União Soviética, inventaram os meios necessários para a modificação do que se lhes apresentava, para a construção de uma sociedade democrática, ainda somente na via socializante.

Havia que criar professores, arrancados aos mais diversos campos e, então, operários, camponeses, estudantes, intelectuais, transformaram-se em militantes do professorado. A palavra de ordem era o ensino. Foram criados cursos de preparação rápida e intensiva. Aprendiam à noite o que deviam ensinar na manhã seguinte. Fins de semana e férias eram aproveitados para essa preparação, tão importante como a reorganização da economia.(6)

Outro problema surgia de importância incalculável — os livros e os métodos de ensino. Os livros existentes continham o veneno da ideologia nazi, da autocracia, do racismo, do culto da guerra. Era impossível ensinar com livros onde os textos destilavam, aberta ou encapotadamente, esse espírito fascista que deformara a mentalidade da grande maioria da juventude alemã. Desde os livros de leitura aos de ciências naturais e biologia, á história e até à própria matemática, tudo servia de pretexto nos livros do ensino nazi para insuflar nos alunos as ideias de raça superior, de inferioridade dos outros povos, de glórias guerreiras e de sede de domínio. Logo em 2 de Agosto de 1945, nos acordos de Potsdam, se dizia:

«O ensino na Alemanha deve ser vigiado a fim de que seja suprimida toda a ideologia nazi e militarista e se abra caminho às ideias democráticas».

A situação do ensino era, para lá dos factos já apontados, em países de estrutura capitalista — baseada numa nítida diferenciação de classes. A partir da 4.ª classe, surgia uma divisão definitiva — as classes trabalhadoras tinham possibilidade de acesso ao ensino técnico de mais 4 anos e os filhos das classes dominantes, que representavam apenas 10% da população, os mais favorecidos economicamente, podiam seguir o curso secundário e ter acesso às universidades, às carreiras que terminavam na direcção dos vários sectores do Estado.

Como se processou a reforma do ensino?

Em 11 de Julho de 1945, o Partido Comunista da Alemanha publicou as declarações programáticas da política escolar, a que, em 18 de Outubro do mesmo ano, aderiu a Comissão Central do Partido Social Democrata da Alemanha. Em 4 de Novembro, o «plano conjunto para a reforma escolar democrática». A este plano aderiram os restantes partidos burgueses.

A «lei sobre a democratização da escola alemã» entrou em vigor em 22 de Maio, e em 12 de Junho de 1946 em todo o território se criou o «sistema escolar único, organicamente estruturado».

Esta lei pôs fim aos privilégios de classe.

Aprende-se muito nas modernas escolas politécnicas de 10 graus. Tanto na cidade como no campo existe o mesmo nível de ensino
Aprende-se muito nas modernas escolas politécnicas
de 10 graus. Tanto na cidade como no campo
existe o mesmo nível de ensino

A transformação operou-se em todos os campos e, para ela, teve uma grande força dinamizadora a criação de Universidades Operárias e Camponesas, onde os componentes das classes trabalhadoras podiam imediatamente ter acesso à instrução superior e à cultura e onde se prepararam quadros que vieram a ter na reestruturação da sociedade alemã da RDA um papel de importância excepcional.

Por todo o país se iniciou uma campanha no sentido de incentivar a população a estudar e a aprender.

O acesso à instrução e à cultura estava, a partir de agora, ao alcance de todas as crianças e jovens de todas as classes ou estratos sociais.

Na escola deixara de se propagar o chauvinismo, o ódio racial e o nazismo, para se difundir as ideias democráticas de compreensão e de paz entre todos os povos.

Cerca de 72% dos professores — antigos militantes do partido nazi — foram demitidos das suas funções. Os novos mestres, imbuídos já de um espírito progressista e democrático, preparados nos cursos intensivos e por correspondência, ocuparam os seus lugares:

Foram assim criados 43 000 professores.

Dos velhos professores nazis, só mais tarde, numa pequena percentagem, dadas provas de recuperação, puderam ser recuperados novamente para o ensino.

Quanto às leis escolares, como se disse, o problema implicava a exclusão imediata de todas as existentes. As que restavam da República de Weimar também não serviam por estarem imbuídos de um espírito burguês e retrógrado.

Imprimiram-se livros com novos textos — 4 milhões no primeiro ano escolar — que aviadores soviéticos levavam às zonas mais afastadas do território.

Nesta reestruturação, a ajuda da União Soviética foi fundamental, não só com o auxílio material, mas com a experiência pedagógica e técnica e até a orientação dos grandes mestres da pedagogia.

Esta reforma abarcava, como é evidente, o mundo rural onde até então existiam 4 000 escolas de uma só classe.

Assim se restaurou um sistema escolar, baseado nos princípios da unidade estatal, igualdade de acesso à instrução para todos e na laicidade — ambição secular das lutas das classes trabalhadoras.

Foi, no entanto, em 1965, que se promulgou a «Lei sobre o sistema unificado do ensino socialista» — pedra chave de todo o desenvolvimento do ensino na RDA

Interessa referir aqui que esta lei tem uma história que demonstra, para além do mais, a base democrática de República. Efectivamente, em 1963 foi criada uma comissão, constituída por 67 cientistas, pedagogos, representantes dos sectores mais importantes da economia nacional e do Governo, destinada a estudar esta reforma. Em 1964, o projecto foi entregue ao Governo para estudo. Antes do Governo e a Assembleia publicarem a Reforma, ela foi discutida pela generalidade dos cidadãos. A discussão e o estudo durou cerca de um ano, tendo toda a população a possibilidade de apresentar críticas e emendas. Toda a imprensa discutiu o programa. Só então a Câmara do Povo promulgou a lei.

O seu artigo 1.°, diz:

«A finalidade do sistema unificado de ensino socialista é dar a todo o povo uma instrução elevada, é instruir e educar personalidades socialistas, num desenvolvimento integral e harmonioso, que organizem conscientemente a vida social, transformem a natureza e usufruam uma vida digna, plena e feliz.»

Porquê unitário?

Porque as crianças das aldeias rurais ou das cidades, do Norte, Centro ou Sul do país, terão as mesmas possibilidades de acesso ao ensino e a mesma forma de ensino, os mesmos resultados, os mesmos livros.

Este ensino de dez anos é obrigatório e gratuito.

Porquê escola politécnica?

Porque a instrução politécnica vai ao encontro das necessidades inadiáveis e fundamentais da sociedade* socialista, do seu desenvolvimento no campo da produção.

A instrução politécnica dá aos alunos conhecimentos, capacidades e competência para se familiarizarem com a técnica e a produção, o seu desenvolvimento científico profundo, e fornece-lhes elementos essenciais para compreenderem a sua função humana no processo de produção social.

Antes, porém, de abandonarmos o funcionamento do ensino politécnico de 10 anos, vejamos em esquema a organização geral do ensino:

Todas as crianças têm (terão em breve) garantida a sua entrada nas creches e depois nos jardins de infância. Até aos 6 anos de idade.

Dali, todas transitam para a Escola Politécnica de, em geral, 10 anos. A partir do 8.° ano, os aíunos podem ingressar em escolas de instrução profissional de dois anos e fazer o seu bacharelato em mais um ano.

Os que fazem o 10.° ano podem seguir ou para a Escola de Instrução Profissional ou para as escolas ampliadas. Os que, através do 10.° ano, ou do 8.° e das escolas de instrução profissional, assim o quiserem, podem ingressar na Escola Técnica. Os que fizerem o bacharelato ou a escola ampliada têm ingresso na Universidade ou na Escola Técnica Superior.

Para a Escola Técnica têm, além destes, ingresso os adultos que frequentem a Universidade Popular, a Academia de Empresa ou a Academia Rural.

Depois da preparação na Escola Técnica, têm igualmente acesso às Universidades e Escolas Técnicas Superiores.

★★★

O ensino Politécnico geral está dividido em três escalões: o inferior que corresponde aos 3 primeiros anos; o médio que engloba os 4.°, 5.° e 6.° anos; o superior do 7.° ao 9.° ano.

No escalão inferior, há um ensino elementar, mas já de carácter científico. Por exemplo, na matemática, as crianças aprendem a manejar símbolos numéricos (a, b, x e y) com variáveis, símbolos de igual e desigual, quer dizer «maior que» e «menor que».

dade e escolas técnicas superiores. O que se pretende é incrementar a personalidade individual socialista. As tarefas essenciais dos dez anos obrigatórios são três:

  1. — incentivar no aluno a sua consciência política;
  2. — criar-lhe possibilidades de fazer um auto-estudo;
  3. — desenvolver no aluno o estímulo para que, terminada a décima classe, frequente uma escola profissional.

Em todas as disciplinas se procura o encontro com os ensinamentos do marxismo-leninismo.

Só no décimo ano se fazem exames. Estes são orais e escritos. Os exames escritos são feitos à escolha do aluno, entre as cadeiras de matemática, alemão, biologia, química e física. Os exames orais podem ser feitos de duas até cinco disciplinas, também de acordo com a vontade do aluno, naquelas ou noutras matérias.

As primeiras noções de filosofia são dadas na nona e décima classes, onde aprendem também a conhecer mais perfeitamente as leis económicas. O materialismo dialéctico só é estudado nas décima primeira e décima segunda classes.

Quanto à valorização do trabalho do aluno durante o ano, dado não terem exames, a comissão pedagógica realiza duas vezes no ano, em Fevereiro e em Junho, reuniões onde se inteira da situação em cada classe e de cada aluno. O colectivo da escola segue também atentamente este processo. Cada pedagogo tem que estar constantemente a par dos problemas dos alunos que estão a seu cargo. Esta função é coordenada com os chefes de classe e a direcção da escola. Desta forma, há um conhecimento efectivo a todos os níveis do aproveitamento de cada aluno em cada classe. Também há reuniões permanentes com as organizações juvenis e com os pais. De toda esta observação do aluno, na escola e no seu contacto com a sociedade, resultam as notas de aproveitamento, modo de avaliação de cada aluno.

Por enquanto, o número de alunos por classe é de 36, mas pretende-se em breve descêr para 30. Com esse fim se constroem por toda a parte novas escolas.

Em todo o ensino se aplicam os meios audio-visuais e outros meios técnicos como importantes auxiliares. Podemos lembrar que, numa pequena escola de província, onde em 1944 havia um quadro negro, 33 quadros ilustrativos (oito dos quais sobre religião), 1 espelho côncavo, 1 barómetro, uma calculadora manual russa, 2 bolas e uma corda para educação física, uma máquina de projectar filmes, um rádio e um violino, hoje se encontram 35 microscópios modernos, amplificadores, tábuas de cálculo, séries completas de aparelhagem experimental para física, incluindo a óptica, a electrónica, etc., além de aparelhos de filmar e projectar, magnetofones, gira-discos, projectores de luz, etc.

Aula de russo num laboratório de línguas. Tais gabinetes existem em várias escolas. Com a ajuda de auscultadores, microfones e fitas magnéticas, cada aluno pode estudar sem prejudicar o vizinho
Aula de russo num laboratório de línguas. Tais gabinetes
existem em várias escolas. Com a ajuda de auscultadores,
microfones e fitas magnéticas,
cada aluno pode estudar sem prejudicar o vizinho

Para o ensino da língua alemã e do russo há uma telescola. Para as outras disciplinas existem vários programas na Rádio e na TV, como auxiliares do ensino escolar. Os programas desses cursos são publicados com grande antecedência.

Está em estudo a obrigatoriedade da língua russa a partir da segunda classe. A razão de ser deste alargamento do ensino do russo deve-se, não só ao interesse pela linguística mas sobretudo à necessidade cada vez maior do conhecimento da língua russa para que os alemães estejam mais aptos a todas as tarefas que a integração socialista impõe.

Em 1975, deve inaugurar-se em Cottbus um gabinete de línguas, cuja instalação ascende a 80 000 marcos (800 contos).

O director diz-me que, no quadro da planificação da economia nacional, se pode afirmar que presentemente 90% dos alunos chegam à décima classe e terminam o curso com aprovação. Mais ou menos 10% só chegam à oitava classe. Por decisão dos pais e educadores podem sair da escola básica. No entanto, a tendência é para esta percentagem diminuir, graças aos processos pedagógicos usados. A percentagem de alunos que, no distrito de Cottbus, em 1973, não passaram o ano foi de 0,9%, que, embora baixa, ainda é considerada alta.

O objectivo é o aproveitamento total.

Em Cottbus, para os jovens com problemas físicos ou psíquicos existem escolas especiais, embora o número destes casos seja muito pequeno.

Um dos aspectos mais importantes do ensino politécnico vem da disposição legal que estipula:

«No ensino politécnico, os alunos devem ser familiarizados sistematicamente com as bases científico-técnicas, tecnológicas e económico-políticas da produção socialista. A actividade prática orientar-se-á mais intensamente para emprego das máquinas, equipamento e instrumentos modernos. A formação politécnica realizar-se-á em empresas socialistas. No nono e décimo ano os alunos recebem o ensino politécnico que os prepara para a actividade profissional. Mediante o contacto estreito entre os alunos e os colectivos de trabalhadores e a execução de tarefas produtivas pelos próprios alunos, sob a sua própria responsabilidade, deve desenvolver-se de forma especial a atitude socialista perante o trabalho.»

Seria extremamente longo o estudo exaustivo deste aspecto do ensino politécnico, como se elaborou o programa, como se executa, os resultados que pretende atingir e os que, efectivamente, atinge. Procurarei dar uma ideia geral bastante sucinta.

Durante vários anos se procurou encontrar na prática, na experiência concreta, os índices da melhor forma de execução do objectivo legal que transcrevemos. Essas experiências foram feitas em milhares de escolas, em empresas industriais e em cooperativas agrícolas. Desse modo, a programação parece ter assentado em bases muito sólidas de eficácia comprovada.

Na sétima e oitava classes, quatro horas semanais são dedicadas às disciplinas de instrução politécnica que compreendem — Introdução à produção socialista, Trabalho produtivo e Desenho técnico. A partir do nono e décimo anos, passa para cinco horas semanais. No plano teórico, os alunos tomam contacto com sectores determinados da tecnologia, noções sobre máquinas, electrotecnia, engenharia de controlo de medição industrial e economia. De acordo com o plano e as exigências do ensino e da preparação profissional, os alunos são repartidos por diversas empresas industriais e agrícolas.

Os alunos não devem apenas saber como se comporta esta ou aquela máquina essencial a certo sector da indústria, mas como se organiza da melhor forma o processo total da produção, se a máquina é utilizada em pleno ou só em parte.

Os alunos têm de se familiarizar com as relações entre a forma de produção e a quantidade dos produtos.

No oitavo e nono anos, os alunos aprendem a constituição das máquinas e dos seus elementos, o seu emprego tecnológico nos diversos sectores da economia nacional. No 10.° ano ministram-se os mais importantes conhecimentos da electrotecnia.

Este estudo teórico é transportado para a prática com a permanência dos alui\os na fábrica ou na cooperativa agrícola. Os alunos estão cinco dias por semana na escola e um dia na empresa ou na cooperativa.

À primeira vista, poderia pensar-se que esta forma de estudo é igual à da aprendizagem normal. No entanto, é bastante diferenciada e com objectivos díspares. O aprendiz faz a sua aprendizagem para obter uma preparação profissional determinada, específica. Aqui, o objectivo não é esse. Pretende-se o conhecimento genérico e multifacetado de um ramo vasto da indústria ou da agricultura, de modo a que o aluno, quando sair da escola, terminado o 10.° ano, e entrar para uma indústria ou empresa agrícola e iniciar o seu curso profissional, esteja habilitado a facilmente se adaptar e especializar tecnicamente no ramo profissional que escolher.

Por outro lado, ter uma noção correcta do que é, no plano nacional, a economia, a produção, a tecnologia, a racionalização, etc.

Ainda mais — encaminhe-se ou não para profissões de carácter intelectual — tenha o conhecimento concreto do mundo do trabalho e da produção, o que, além de o aproximar dos trabalhadores, lhe dá uma incomparável riqueza cultural e humana.

Por último, a sua preparação como individualidade socialista ficaria incompleta se não tivesse este contacto e conhecimento directo e efectivo com o trabalho e a produção, a tecnologia e a racionalização. Assim, toda a sua preparação, neste campo, é multifacetada.

Vejamos o plano de trabalho dos alunos executado em 192 horas anuais:

  1. — manejo, vigilância e manutenção de máquinas e ferramentas;
  2. — colaboração nos trabalhos de manutenção e execução de trabalhos completos de montagem;
  3. —execução de trabalhos especiais na empresa, segundo as experiências do respectivo ramo da indústria ou da agricultura.

Neste campo, o plano de trabalho para os alunos do 7.° e 8.° anos diferencia-se entre indústria e agricultura, enquanto que para os do 9.° e 10.° anos se diferencia entre: indústria transformadora de metais, indústria eléctrica, construção civil, agricultura, indústria química, indústria têxtil, indústria transformadora de madeiras, de couro, de confecção e de manutenção de maquinaria agrícola.

Em relação à agricultura, o plano exige que os alunos do 9.°- e 10.° anos executem um trabalho produtivo em sectores especiais, como sejam: tractores e produção agro-pecuária. cultivo dos campos, horticultura, fruticultura, silvicultura, produção de sementes, criação de rezes, criação de porcos e de aves de capoeira e apicultura.

Este estudo mantém uma constante fundamental — a teoria e a prática permanentemente aliadas e interinfluentes na formação do aluno.

Entrevista com o Reitor da Universidade de Dresden

O professor Dr. Fritz Liebscher, reitor da Universidade de Dresden, é uma das mais altas personalidades da RDA, no campo do ensino. Tinha marcado uma entrevista com um secretário da Universidade na manhã da minha chegada a Dresden e foi com surpresa que me disseram ser o próprio reitor a receber-me. Antes de entabularmos um diálogo, o Professor Liebscher fez uma exposição que, em grande parte, respondeu desde logo a muitas das perguntas que pensava fazer-lhe. Pelo seu interesse e porque define muito claramente as bases ideológicas e pedagógicas do ensino superior na RDA, transcrevo, tanto quanto possível na íntegra, as palavras do Professor Liebscher.

— «A Universidade de Dresden é um dos centros de ensino técnico mais vasto da Europa. Porquê Universidade Técnica e não Escola Superior Técnica ou Politécnica? O nosso esquema é de instrução superior aplicada à técnica. Formamos químicos, físicos, filósofos, matemáticos e pedagogos. Naturalmente que, no caso da matemática, ela deve ser intimamente ligada à técnica.

Como se faz a preparação na Universidade Técnica? Partimos do pressuposto de que pretendemos obter especialistas com uma cultura sólida e uma preparação socialista segura, válido para todos os estudantes. Certamente que esta unidade é o ponto mais importante do nosso sistema educacional.

Temos aqui uma secção de marxismo-leninismo, uma secção de filosofia e ciências culturais. Essas duas secções são obrigatórias e dão formação a todos, nessas especialidades. Começa no primeiro ano o estudo das bases do marxismo-leninismo.

O estudante tem que saber, desde o início, porquê e para que estuda.

Por isso, o estudo universitário não é um caso privado. A classe operária cria as condições para esse estudo e espera que esta tarefa seja realizada. Para tal organizamos nós o condicionalismo necessário também.

Noventa por cento dos alunos vivem em internato. Mais de metade dos lares onde vivem estes alunos foram construídos depois do VIII Congresso.

85% dos estudantes recebem bolsas de estudo. Cada bolsa é de 190 marcos por mês e pode aumentar de 40 ou 80 marcos conforme o aproveitamento, sendo assim um modo de emulação. Os lares são extremamente baratos. O seu custo é de 8 a 10 marcos por mês. Além disso, temos uma grande cantina e nela a refeição do meio dia custa entre 0,70 e 1 marco. Evidentemente que temos bolsas de estudo mais elevadas para os alunos melhores. São, no entanto, muito poucas.

Também criamos as possibilidades para que casais de jovens estudantes possam aqui vir e ter à sua disposição creches e jardins de infância.

Ainda não conseguimos satisfazer todas as exigências resultantes do nosso sistema e do nosso desenvolvimento, mas os casos mais difíceis estão solucionados.

Com estas condições o estudante pode dar o melhor rendimento. Para tal, trabalha em estreita colaboração com o corpo docente e as organizações juvenis.

Temos um sistema muito rigoroso para orientação do estudo e do seu controlo. O estudante deve atingir o final do curso no fim do prazo marcado. Para tanto, são essenciais tanto os docentes como os estudantes. Aqui não há estudantes que estejam oito ou nove anos na Universidade. Quem não leva o estudo a sério ou não dá o rendimento necessário deixa a Universidade. Nós partimos do princípio de que todo o estudante que aqui entra deve acabar o seu curso. Não é com a expulsão que os problemas se resolvem. A nossa tarefa é educá-lo, motivá-lo para que estude. Deste modo, tanto nos dirigimos aos docentes como aos alunos.

Dos estudantes que entraram em 1970, terminaram o curso, em 1974, 84%. Saíram anualmente 4% que não terminaram o curso.

Sei que há países onde a percentagem de alunos que não concluem o curso atinge 30, 40 e até 50%. Creio poder afirmar que o nosso resultado se deve à ligação — corpo docente/organização juvenil. Uma das nossas grandes vitórias é o ter conseguido que o estudante não fique sozinho.

Conteúdo e direcção de estudo

«Há 30 anos, cada um podia estudar tudo o que havia em cada sector. Nos últimos decénios assistimos a uma evolução tal qye seria impossível exigir que alguém estudasse tudo sobre çada matéria.

Não é solução para isto alargar o tempo de estudo. Qual o tempo mínimo? Como prepararmos o estudante para que ele queira e possa continuar a sua preparação? O mais importante é educar os nossos cientistas para que estudem pela vida fora.

Há oito anos decidimos limitar os cursos para 4 anos em medicina, física, arquitectura, química. A nível internacional, o estudante de arquitectura tem que estudar mais. O que é que o estudante deve estudar e não deve estudar? A comparação nos meios internacionais nesse aspecto é muito difícil — não devemos encarar só o período em que o estudante está na Universidade. Devemos ter presente o período pré-universitário. O estudante deve ter uma excelente preparação prévia. Os nossos candidatos chegam com uma óptima preparação matemática e de ciências técnico-naturais. Ao compararmos, a nível internacional, devemos encarar o problema do estudante a partir çla 1.* classe.

Analisemos alguns problemas acerca de determinados princípios básicos: — Deve garantir-se no ambiente universitário a unidade entre investigação e ensino. Também a unidade entre a função cultural e o ensino e entre a teoria e a prática.

Acerca da unidade entre a investigação e o ensino, nós defendemos o ponto de vista de que na Universidade se deve também praticar a investigação. Um cientista deve trabalhar na investigação, não ser apenas um técnico ou um pedagogo. Ele tem que estimular o seu espírito de iniciativa por meio de uma pesquisa própria. Não se pode ensinar a trabalhar cientificamente se não se interessar o aluno na investigação. Defendemos o ponto de vista de que um terço do trabalho deve ser dedicado à investigação. Esta afirmação não pode, no entanto, ser generalizada. Há campos onde o cientista deve_aplicar mais ou menos tempo à investigação. Orientamos o nosso trabalho para incrementar a pesquisa, mas também neste campo damos a preferência ao ensino, porque a nossa contribuição mais válida à sociedade é dar-lhe universitários altamente qualificados.»

Unidade entre o ensino e a educação

Cada docente tem que ser um pedagogo. O professor universitário deve impor-se pelo seu próprio exemplo. Não pode dizer a um estudante: — «Deves ser um bom socialista.» O ideal será poder dizer-lhe: — «Faz como eu.»

Durante muito tempo, sobretudo na formação burguesa, havia a opinião de que cada estudante deveria ter uma cultura ou estrato científico para a evolução das qualidades de carácter, da sua atitude para com o Estado. Para tudo isso, o docente não se sentia responsável. Nós pensamos o contrário e estamos convencidos de que certas disciplinas, como o marxismo-leninismo, tem no estudante uma influência extremamente importante e decisiva.»

Unidade da teoria e da prática

«Nós dedicamos os nossos maiores esforços para que o estudante receba uma instrução teórica muito desenvolvida, mas durante o estudo ele tem que aprender a adquirir uma atitude de ligação com a prática.

Problemas tais como a ligação entre as aulas práticas e teóricas, entre a Universidade e a prática, entre a Universidade e a indústria, por isso mesmo, nos chamam uma maior atenção.

Queremos que o estudante já durante o tempo de estudo conheça a prática, os problemas do trabalho e também comece a observar as tarefas onde virá a actuar.

O estudo por correspondência

«Nós garantimos a todos os cidadãos a possibilidade de acesso ao ensino superior. Isso quer dizer que qualquer operário que mostre qualidades ou queira aumentar os seus conhecimentos nas escolas profissionais das empresas ou nas escolas superiores ou nas universidades tenha possibilidade de o fazer. Geralmente, isso é feito segundo um sistema de estudo por correspondência, e assim o interessado pode continuar a trabalhar na sua empresa. Por seu lado, as empresas têm o dever de enviar tais candidatos para o estudo universitário. Eles têm o direito a um período de três meses por ano remunerado (com salário completo), é claro que o facto de um estudante trabalhador continuar a receber o salário completo obriga indiscutivelmente a estudar seriamente. Este sistema de estudo tem conseguido resultados excelentes. Estudam com todo o afinco, sobretudo pela sua maturidade e experiência de vida. O ano passado, a nossa Universidade entregou o diploma de fim de curso ao 10 000.° estudante por correspondência. O estudo tem a mesma finalidade do estudo dentro da Universidade. Além çlisso, a reciclagem tem um papel extremamente importante e significativo. Com esse objectivo, preparamos sessões de estudo que vão de uma a quatro semanas. Há períodos de reciclagem que vão até dois anos. Não se trata de uma reciclagem geral, mas em campos muito específicos.

Outros modos de formação, únicos na RDA

«Este ano festejamos o Ano Internacional da Mulher. Criámos possibilidades para que as mães solteiras possam estudar em Dresden. Damos-lhes um pequeno apartamento. Vêm para a Universidade com os filhos. Durante o dia eles ficam na creche ou em jardins de infância. Até agora só temos 60 apartamentos, mas construiremos mais. E isto é uma prova de que tratamos do problema, sem esquecermos as funções familiares da mulher.

As mães que para aqui vêm foram delegadas pelas empresas para o estudo universitário. Não há pedidos individuais. Trata-se de mulheres com funções sociais na vida prática e que, deste modo, podem adquirir aqui uma formação universitária.

A maior parte delas, já sabe de antemão para onde vai trabalhar.»

Não consegui saber muito concretamente se nas Universidades da RDA se procura, através de uma educação humanística, tentar evitar o perigo de uma educação tecnicista. O aspecto contrário, esse sim, parece ter sido encarado de forma decisiva.:

O reitor da Universidade de Dresden diz-me, para lá do que está transcrito, que as Universidades Clássicas incluem já todas as disciplinas de carácter técnico. Na Universidade de Berlim há uma secção de construção naval e em lena de aparelhos científicos. De resto, toda a orientação do ensino politécnico leva os jovens, desde a mais tenra infância, a um contacto permanente com as ciências, a técnica e o mundo do trabalho. Desta forma, os cursos de letras, de direito, de filosofia, de história, não estão completamente afastados da realidade da vida moderna, muito especialmente da sociedade socialista desenvolvida em que se inserem.

No outro lado do problema, isto é, não desligar os estudantes que se dirigem para uma especialização técnica dos problemas da filosofia e das humanidades, sabemos que eles têm disciplinas de marxismo-leninismo. Mas será isso o bastante para evitar uma mentalidade um tanto ou quanto tecnicista, longe do contacto e estudo da literatura, da arte, da história edos inúmeros problemas que se colocam e emergem na nossa sociedade, no nosso tempo? Não sei.

De um encontro com professores e alunos da Universidade de Rostock que também visitei, podemos colher elementos complementares para uma visão geral da Universidade da RDA.

A Universidade, quando a Guerra terminou, estava encerrada. Abriu em Fevereiro de 1946. Procedeu-se ao saneamento dos professores fascistas. O corpo docente foi preenchido com alguns raros elementos das forças anti-fascistas, oficiais do exército soviético e quadros preparados intensivamente.

Nessa época criaram-se as Universidades populares — operárias e camponesas.

A história destas universidades que têm, para nós, o maior interesse .e que contêm um programa completo da reestrutu- ração do ensino na Revolução Socialista da RDA, pode ser estudado no manual de Hermann Kant, hoje vice-presidente da Associação de Escritores e antigo aluno da Universidade de Greifswald, intitulado A Aula.

Esta primeira etapa, em que foi feito o aproveitamento dos cientistas que não tinham sido fascistas activos, embora tivessem de certo modo colaborado com o regime, corresponde à reforma anti-fascista e democrática da Universidade, enquadrando-se no esquema revolucionário geral.

A segunda etapa vai de 1950 a 1968.

Corresponde ao estabelecimento do ensino politécnico único e a um esquema unitário que vai do jardim infantil ao ensino superior.

Estabeleceu-se então o ensino obrigatório do marxismo-leninismo.

Em todas as Faculdades, mesmo na de Teologia, o ensino do marxismo-leninismo foi introduzido, estudando-se em aulas teóricas e práticas, seminários, etc.

No entanto, a grande reforma ainda se não tinha processado. Ela vem a fazer-se a partir de 1968 — o que constitui a terceira e actual etapa.

Em 1965, como se disse, o ensino politécnico único ia até às Universidades e Escolas Técnicas Superiores, continuando com a reciclagem o que ainda não foi totalmente conseguido.

Tentou-se, ao contrário dos países capitalistas, a integração da Universidade na sociedade. Orientação unitária — com dois ramos ligados e bem definidos: pesquisa e pedagogia. Isto foi ou mal entendido ou aplicado exageradamente, tendo-se tornado a Universidade prestadora de serviços à indústria, com o perigo eminente de o trabalho económico realizado ser reduzido a soluções quotidianas. Ora o Partido e o Governo orientam as Universidades para a pesquisa científica e para a aquisição pelos estudantes de boas bases científicas.

Na terceira etapa, encara-se a modificação das estruturas da Universidade e das Escolas Superiores. As estruturas de 68-69 estavam em contradição com as novas tarefas sociais. Essas estruturas tradicionais tinham mais de um século. Era um aglomerado heterogéneo de Faculdades, subdivididas em Institutos. Tudo isto foi alterado.

Em relação à Universidade de Rostock, não se pode ignorar o condicionalismo geográfico e económico do distrito.

Como veremos, foram eliminadas as velhas divisões em Faculdades de tipo tradicional e criaram-se secções ou complexos educativos que são organizados em cada Universidade de acordo com as determinantes sócio-económico-geográficas do distrito onde se implantam. Assim, em Rostock, foram criados 4 grandes complexos para o trabalho universitário.

  1. — Navegação Marítima — De acordo com a situação geográfica de Rostock, criaram-se secções especializadas em construção naval, pesca, biologia marítima e economia de navegação.
  2. Estudos Agronómicos — Ainda em relação com a situação geográfica, criaram-se secções de agronomia, pecuária, produção vegetal, cultura de solos, técnica de construção de máquinas agrícolas. Abandonou-se o estudo geográfico da agronomia para criar zonas de especialização.
  3. — Pedagogia e Ciências Culturais — Neste complexo a função mais importante é a preparação de professores para as escolas do 5.° ao 10.° ano. Aqui encontramos duas divisões fundamentais — ciências naturais e química ou ciências sociais, alemão, história, língua russa, desporto, inglês e outras línguas.
  4. Saúde Pública — Este complexo corresponde à antiga Faculdade de Medicina. Aqui não se preparam apenas médicos, mas outros intervenientes na saúde e assistência pública, na profilaxia da saúde.

Noutros centros geográficos (distritos) criaram-se complexos diferentes de modo a inserirem a Universidade na realidade social.

O Reitor dirige a Universidade segundo o princípio da direcção única que resulta das linhas mestras que são dadas pelo Conselho Directivo. O Reitor é acessorado por dois Conselhos — o Social e o Científico. O Social não emite decisões, mas recomendações. É constituído por representantes da Universidade e da vida pública, como por exemplo, o Presidente da Câmara e os Directores das principais indústrias.

O Conselho Directivo Científico é escolhido pelos trabalhadores da Universidade, professores e alunos. Tem funções de consulta e decisão sobre assuntos relacionados com a ciência ou a escolha de docentes, concessão de graus académicos, etc.

Existe um plenário da Universidade onde estão representados todos os complexos do distrito.


Notas de rodapé:

(6) Uma das bases da campanha pelo ensino foi a formação dos NEULEHRER (novos professores), recrutados entre os anti-fascistas, sobretudo entre trabalhadores. Logo no ano de 1945/46, começaram a ensinar nas escolas cerca de 15 000 destes novos professores-trabalhadores que foram preparados em cursos intensivos de três a seis meses, com a ajuda de pedagogos da União Soviética. (retornar ao texto)

Inclusão 16/02/2015