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O mundo de nossos dias vive período agitado por comoções sociais, perturbações econômicas, choques armados, preparativos de guerra. O capitalismo revela toda a perversidade de um sistema que somente pode manter-se por mais algum tempo através da brutal espoliação dos povos, da exploração infrene da classe operária, da fabricação maciça de armamentos sofisticados, da disputa pela hegemonia mundial.
O processo inevitável de monopolização da economia, concentrada nas mãos dos grupos mais poderosos, e o desenvolvimento desigual do regime capitalista conduziram à formação de duas superpotências – os Estados Unidos e a União Soviética – que se digladiam na ânsia de vir a ser o senhor absoluto de todo o Planeta. Ambas operam nos cinco Continentes, embora tenham áreas privilegiadas de atuação nas quais se consideram forças dominantes exclusivas. Tanto uma como outra tentam esmagar a revolução, verdadeiro e grande empecilho à realização de seus planos neocolonialistas. Encontram, porém, a resistência sempre maior dos explorados que redobram a vigilância e a luta revolucionária na procura da saída libertadora.
A América Latina é uma extensa zona de controle do imperialismo norte-americano. Há cinco ou seis décadas, este imperialismo empenha-se diligentemente em submeter aos seus interesses o conjunto do Hemisfério. Os países que o compõem são formalmente independentes desde os albores do século XIX. Pouco desenvolvidos, com uma estrutura retrógrada e conservadora, foram caindo na dependência estrangeira, primeiro da Inglaterra, depois do chamado colosso do Norte. Na atualidade, atravessam uma fase duríssima de dificuldades econômicas, enfrentam crises agudas e sofrem agressões militares.
Os Estados Unidos são os principais algozes dos povos latino-americanos. Nos anos 1960 e 1970 fomentaram os golpes militares que se sucederam do lado do Atlântico e do Pacifico. Sob sua inspiração, e comando direto, alastraram-se as ditaduras fascistas de Norte a Sul. Era a resposta que davam aos anseios de progresso das massas, às lutas destemidas pela democracia e a libertação nacional. Sem contar com suficiente apoio político, apelaram para os generais dos diversos países treinados nas Academias e Escolas de Guerra dos Estados Unidos, onde se incutem as idéias desnacionalizantes da propalada interdependência, as concepções do anticomunismo e do elitismo de casta. Usurpando o Poder, os regimes castrenses desbravaram o caminho à penetração das multinacionais, entregaram as riquezas naturais aos monopólios alienígenas, contraíram dívidas vultosas que escravizam as nações latino-americanas aos banqueiros da América do Norte, da Europa, do Japão.
Em contraposição a essa política antinacional e antipopular espalhou-se como labaredas sopradas por ventos de verão a revolta das massas populares. Despontaram vigorosos movimentos pela liberdade, em defesa da independência que fora alienada. Na América Central ruiu o bastião somozista e a Nicarágua livrou-se do secular opressor estrangeiro. O povo de El Salvador aproxima-se da vitória em combates heróicos contra a reação. Em toda a área do Caribe o sentimento revolucionário se manifesta intensamente. No sul do Continente, progride a luta contra os regimes militares. Os povos desta parte do mundo já não se conformam com a atitude servil de seus governantes frente ao imperialismo. A classe operária vai ocupando o seu posto de vanguarda. Ergue a bandeira do socialismo, realiza poderosas greves que se transformam em conflitos de rua de envergadura com as forças reacionárias. Os camponeses reclamam de arma em punho a posse da terra. Os patriotas em geral insurgem-se contra a vergonhosa submissão aos monopolistas estrangeiros. A América Latina se converte num Continente em plena ebulição revolucionária.
Precisamente por isso, os Estados Unidos passam a uma nova fase em suas relações com esta parte da América. As fortalezas internas em que se apoiavam vão ruindo, ou desmoralizando-se, uma a uma. Chegou o momento da intervenção armada direta para manter suas posições. Tropas norte-americanas invadem países soberanos. Suas esquadras, violando preceitos do direito internacional, organizam o bloqueio dos mares que circundam as nações libertadas ou em luta por sua completa emancipação. Em Honduras, El Salvador, Nicarágua, Guatemala e outros países ativam-se forças contra-revolucionárias dirigidas pelo Estado-Maior estadunidense. O último ataque à pequena ilha de Granada, democrática e pacífica, que nenhum perigo pode representar para os Estados Unidos, é bem uma demonstração do grau de intolerância e agressividade da política da Casa Branca. Já anteriormente, os Estados Unidos colocaram-se ao lado da Inglaterra na expedição colonialista às Malvinas.
Esta atividade belicista do país de Ronald Reagan no Continente chama a atenção de todos os patriotas e democratas latino-americanos. Estamos diante de mudança de tática do imperialismo estadunidense que, agora, usa a força armada, a intervenção sem máscara em todos os lugares onde avança o movimento progressista. Encontramo-nos em face de um novo ciclo de invasões, de guerra aberta dos Estados Unidos contra os povos deste e de outros Continentes. O antigo método de se camuflar atrás das ditaduras e das oligarquias reacionárias já não surte o efeito desejado por Washington. Elas perderam todo apoio e respeito dos povos, são tão odiadas quanto os opressores estrangeiros. Na América Latina, os militares tidos erroneamente em alguns setores sociais como salvadores da pátria, caracterizaram-se nestes últimos quinze/vinte anos como entreguistas consumados, inimigos da liberdade, serviçais do capital imperialista.
Indubitavelmente, os conflitos em curso neste Hemisfério não são circunstanciais, nem se restringem ao nosso Continente. Relacionam-se com a política agressiva dos Estados Unidos no mundo inteiro.
O mesmo cinismo manifestado pelo governo ianque no assalto à Granada observa-se nas hostilidades desatadas nas terras dilaceradas do Líbano. Ali, ironicamente apresentadas como forças de paz, as tropas estadunidenses bombardeiam populações indefesas, matam indiscriminadamente mulheres e crianças, alvejam hospitais e escolas. Não faz muito tempo, aliadas a Israel, praticaram o genocídio de Sabra e Chatila que comoveu o mundo pela crueldade muito semelhante aos horrores do tempo do nazismo. Também na África, em companhia da França, os Estados Unidos intervêm na guerra civil do Chade. A fim de sustentar um regime reacionário e corrompido, milhares de pára-quedistas, instrutores e técnicos militares norte-americanos chegaram e entraram em ação naquele país do Continente negro.
Os Estados Unidos distribuem suas forças pelos quatro cantos do mundo com propósitos imperialistas. Atualmente há soldados americanos em quase todo o Globo. Cerca de 350 bases militares foram implantadas em numerosos países: Austrália, Japão, Groenlândia, Islândia, Escócia, Bermudas, Cuba, Panamá, Grã-Bretanha, Espanha, Ilha da Ascensão, Portugal, Filipinas, Coréia do Sul, Alemanha Ocidental, Madagascar, Turquia, Omã, Egito, Grécia e Itália. Além disto, há também bases não-americanas em outros muitos lugares, nos quais é garantido o livre acesso aos militares ianques. Na Iugoslávia ocorre fato sui generis: este ano 5 mil soldados dos Estados Unidos passarão ali um período de férias, como turistas. Pagarão suas despesas em dólares, o que agrada sobremaneira aos governantes locais. Estranhos turistas...
Inegavelmente, invadir nações soberanas, manter tropas em outros países não é coisa tão simples. Encontra de imediato a condenação e a repulsa dos povos. Este o motivo por que todo agressor tenta justificar suas ações militares através de propaganda enganosa. Os Estados Unidos invocam, a cada momento, o perigo da expansão soviética, cubana e até mesmo da Líbia. Dizem que são defensistas, suas tropas estariam a serviço de uma cruzada humanitária, democrática, em prol da paz ameaçada. Sua função seria preventiva. Se usam armas sofisticadas e de extermínio em massa isto seria uma necessidade para esmagar o poderio do inimigo russo, cubano e líbio emboscados em países que não os seus. Acontece que, consumado o ataque norte-americano, fácil é constatar que o tal poderio não existia, ou reduzia-se a algo de pouca significação. É certo que a União Soviética intromete-se em toda parte tratando de estender sua influência social-imperialista, inegavelmente constrói bases militares fora de suas fronteiras. Onde, porém, existem essas bases e poderio real da URSS, os Estados Unidos para lá não vão. Ao menos por enquanto. Os soldados do "Tio Sam" colocam-se em posições estratégicas e investem sobretudo contra a revolução, contra o movimento antiimperialista e democrático que floresce em muitos lugares, na América Latina em particular. Visam a derrubar governos que não se compõem politicamente com o capital financeiro estadunidense ou impedir a vitória de regimes populares. As alegações dos agressores ianques para justificar suas ações bestiais não contêm nenhum traço de verdade, são mero expediente diversionista.
A atividade principal do imperialismo – tem as suas raízes fincadas em Washington ou Moscou – é, na atualidade, o expansionismo, a conquista do domínio mundial. Sua estratégia, econômica e militar persegue este fim. A ela se subordinam os deslocamentos bélicos e os empreendimentos financeiros que realiza. As bases e a presença militar servem de instrumento de pressão e de controle dos países onde se instalam. Ajudam a quebrar certas resistências nacionalistas, criam condições para a dependência em relação aos Estados Unidos ou à União Soviética. É típico, aliás, o que está acontecendo na Europa. A controvérsia em torno da implantação de mísseis americanos nesse Continente não diz respeito propriamente a estabelecer equilíbrio de força entre as duas superpotências, e menos ainda tem a ver com a proteção do Ocidente. Ambos os lados, Leste ou Oeste, dispõem de armamentos em quantidades excessivas para o ataque ou a defesa em qualquer nível. Com essa medida os Estados Unidos procuram submeter a Europa Ocidental a sua influência decisiva, pôr fim à política de independência européia frente aos Estados Unidos, política defendida, durante certo tempo, pelos gaulistas franceses e social-democratas alemães. A pressão econômica, manejada no curso da profunda crise que se abate sobre o mundo, é também meio de sujeição de muitas nações.
Essa política de domínio mundial é o verdadeiro motivo das agressões norte-americanas na América Latina e em outras regiões. Aqui, os Estados Unidos não admitem que os povos se levantem reclamando liberdade e independência. Não consentem que se formem governos de oposição aos seus interesses.
É o que faz também em muitos outros pontos do Planeta a União Soviética.
Da acirrada disputa pelo completo domínio do mundo surge o perigo de guerra, cada dia maior. Exércitos poderosos das duas superpotências defrontam-se em muitos lugares, mísseis atômicos apontam em direções cruzadas, navios de combate carregando arsenais destruidores passam uns pelos outros nos sete mares. Um acidente de maior vulto em áreas de intensa competição soviético-norte-americana poderá destravar as armas de largo alcance e envolver o Planeta na maior carnificina de todos os tempos. Em função do quê? Da supremacia de um dos bandos, vencedor no gigantesco conflito inter-imperialista. Se é que haveria vencedor...
Certamente, o domínio do mundo por um único país é sonho de louco. Hitler alimentou tais ilusões, imaginando o império nazista dos mil anos. Os planos norte-americanos, bem como os dos soviéticos, de hegemonia mundial, jamais serão realizados. Obedecem, sem dúvida, a leis objetivas, uma vez que o monopólio é a essência mesma do desenvolvimento do capitalismo na sua última fase. Mas essas leis esboroam-se pelas próprias contradições geradas no interior do sistema imperialista. A revolução germina com grande força. Nos embates que se aproximam os povos seguramente ajustarão as contas finais com os monstros insaciáveis do capitalismo moribundo. Várias vezes os Estados Unidos tentaram esse domínio, e fracassaram. Não o conseguiram depois da Segunda Grande Guerra quando desfrutavam do monopólio atômico. Sofreram derrotas históricas na guerra da Coréia e na agressão ao Vietnã. Seus projetos malogram na América Latina: ao invés de paz dos sepulcros que pretenderam impor nestes vinte anos, revolta das massas, indignação antiamericana, ascenso revolucionário em todo o Continente.
Inevitável será a vitória dos povos.
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Inclusão | 28/05/2013 |