MIA> Biblioteca> Fúlvio Abramo > Novidades
Primeira Edição: (A Luta de Classe, no. 1, 8/5/1930) Na Contracorrente da História. Documentos da Liga Comunista Internacionalista 1930 – 1933. Fúlvio Abramo e Dainis Karepovs (orgs.)
Fonte: http://www.ler-qi.org/
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
“A Luta de Classe”(1) é, antes de tudo, a conseqüência dialética de dois fatos: a) uma situação objetiva favorável ao trabalho de agitação e organização das massas; b) o agravamento dos erros da direção do Partido Comunista. Surge, hoje, no momento mesmo em que esses erros, atingindo a sua culminância, vieram tornar imprescindível a edição de um órgão de luta de classe, onde se consubstanciem as idéias primaciais da obra revolucionária de Marx e de Lenine. Não é - como "Cultura" - um veículo de curiosidades intelectuais, nem - como "A Classe Operária"(2) um jornal que existe por obrigação ... burocrática.
Fruto das próprias circunstâncias, resultante inevitável delas, "A Luta de Classe" significa e representa, por isso mesmo, a necessidade imediata de uma luta sem tréguas, intransigente, enérgica, implacável, contra a burguesia e seus privilégios de classe - em primeiro lugar; e, em segundo lugar, contra todos os desvios ou deformações de que a direção do Partido Comunista vem sendo, nestes últimos tempos, uma espécie de casa editora atacadista, com importação e exportação, diretas e indiretas ...
Alerta! Eis o brado que dirigimos à classe operária, por intermédio do que ela possui de melhor, de ideologicamente mais avançado e de mais consciente, para que, retomando sua posição verdadeiramente revolucionária contra a classe adversa, de acordo com os ensinamentos da Revolução Russa, se acautelem dos perigos a que podem conduzi-Ia os erros de política e de tática e os desvios oportunistas de certos elementos da vanguarda. Não visa a combater o Partido Comunista, porque o que urge é reintegrá-lo na linha que se traçou por ocasião de sua fundação, de modo que o seu rótulo vermelho passe a ser a expressão revolucionária de uma realidade.
Por meio de uma crítica fraternal, até onde for possível, mas, tenaz e, por vezes, violenta, até onde for necessária - a "Luta de Classe" seguirá desassombradamente o caminho que lhe indicaram as imposições históricas, apontando às massas a solução revolucionária do problema social e mostrando a diferença fundamental que existe entre a concepção "retalhista" de Revolução (por etapas ou a prestações) e a verdadeira concepção marxista do desenvolvimento histórico, segundo a qual os acontecimentos se interdependem dialeticamente, marchando com o ritmo que lhes é próprio e não dando jamais a possibilidade de uma classe resolver os problemas da outra. Como se sabe, tem-se pretendido vulgarizar a idéia abstrusa de que o proletariado primeiro deve resolver os problemas nacionais da burguesia, para depois realizar a obra de sua libertação! A outra coisa, senão à traição mais evidente dos interesses vitais da classe operária, não podia conduzir a concepção estreitíssima de que a Revolução deva ser feita a retalhos(3).
Denunciando a política dos golpes de força, a serviço de uma linha e, conseqÜentemente, de uma finalidade oportunista - "A Luta de Classe" não perderá ocasião de desmascarar todos os atentados à integridade dos princípios, atentados que se caracterizam por uma nova modalidade de desvio revolucionário, o onanismo revolucionário, alternativamente praticado com a mão direita e a mão canhota.
Feito para ventilar todas as questões que interessem diretamente ao proletariado e à sua organização, "A Luta de Classe" se dirige especialmente aos elementos ideologicamente mais íntegros, de fora e de dentro do Partido Comunista, chamando-os à luta franca e decidida contra a burguesia e os seus servidores conscientes ou inconscientes.
Conta, por isso, com o apoio efetivo, moral e material, de todos esses elementos, a fim de que possam realizar mais eficientemente a obra que o movimento exige. E aqui estaremos sempre, sob as ameaças de duas polícias, cada qual mais atrabiliária - a polícia interna do Partido Comunista e a polícia burguesa das ruas.
Tudo pela salvaguarda dos princípios revolucionários e pelos mais lídimos direitos e interesses da classe operária!
Notas de rodapé:
(1) A Luta de Classe foi órgão oficial dos diversos grupos trotskistas dos anos 30 (Grupo Comunista Lenine - maio de 1930 a janeiro de 1931; Liga Comunista do Brasil - 1931 a 1933; Liga Comunista Internacionalista - 1933 a 1936; Partido Operário Leninista - 1936 a 1939 e Partido Socialista Revolucionário - 1939. Apesar da diversidade de denominações, a existência de um fio de continuidade em termos de linha política, de militantes, de filiação internacional e a manutenção de seu órgão oficial atestam uma unidade): De publicação irregular, seu primeiro número saiu em 8/5/1930 e o último de que se tem conhecimento, o 45º., é de agosto de 1939. Embora apresentasse, a partir de meados de 1935, como locais de saída Niterói, Belo Horizonte ou Juiz de Fora, o fato é que A Luta de Classe somente foi editada em São Paulo ou Rio de Janeiro, de acordo com o lugar de permanência de sua direção. Sempre impressa até o número 33, A Luta de Classe passa a ser mimeografada a partir de 10 de dezembro de 1937, data de seu 34º. número. Convém assinalar que, em 1934, depois do afastamento de Aristides Lobo, Victor de Azevedo Pinheiro, Raquel de Queiroz e José Mateus da LCI. devido à posição contrária à atuação da organização no confronto armado ocorrido no Largo da Sé entre a Frente Única Antifascista e a Ação Integralista Brasileira e à política de "entrismo" preconizada internacionalmente por Trotsky, foram publicados dois números de A Luta de Classes (com um "s" de diferença) sob a responsabilidade desse grupo, em duplicata com os números equivalentes da publicação oficial. (retornar ao texto)
(2) A Classe Operária era o órgão central do PCB. Seu primeiro número circulou em 1.5.1925, durando até 18.7.1925, quando é fechado pelo governo. Reaparece em 1.5.1928, mantendo-se até março de 1940, quando a repressão exercida pelo Estado Novo praticamente desarticula o partido. Ressurge em maio de 1945, continuando em seu papel de órgão oficial do PCB até 1953. Sua publicação é retomada pelo atual PC do B em março de 1962, circulando até hoje como seu órgão oficial. (retornar ao texto)
(3) A "revolução a retalhos" a que se refere o texto é como os oposicionistas de então qualificavam a linha política de aliança com a pequena burguesia e a "revolução por etapas" defendida pelo PCB, consagrada no III Congresso do PCB (Niterói, 29.12.1928 e 4.1.1929): Para o PC era necessário que o proletariado fizesse uma aliança com a pequena burguesia para que esta realizasse a sua "revolução democrático-burguesa", abrindo caminho ao proletariado para a tomada do poder. Tal diretiva fora trazida pelos delegados do PCB ao VI Congresso da Internacional Comunista. "E devemos declarar que o sustentaremos (o governo da pequena burguesia), enquanto lutar contra o imperialismo, contra os proletários agrícolas e contra a reação, e o combateremos quando se aliar a eles, ao mesmo tempo que deveremos preparar a segunda vaga para derrubar a pequena burguesia." (Relatório dos delegados do PCB ao VI Congresso da IC, in Auto-Crítica, no. 6, p. 11). A partir do III Congresso do PCB, a influência e o controle políticos diretos da lC sobre o PCB acentuam-se de modo cada vez mais patente. (retornar ao texto)