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Primeira Edição: Na Contracorrente da História. Documentos da Liga Comunista Internacionalista 1930 – 1933. Fúlvio Abramo e Dainis Karepovs (orgs.)
Fonte: http://www.ler-qi.org/
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Esta obra é fruto da vocação do CEMAP. Criado em 1981, o Centro de Documentação do Movimento Operário Mario Pedrosa - CEMAP deu-se por objetivo conservar e preservar a documentação do movimento operário, em todas as suas correntes e tendências: anarquistas, comunistas, socialistas, trotskistas, etc. Arquivos pessoais de antigos militantes (F. Abramo, V. Azevedo, R. Karacik, M. Macedo, P. Melo, entre outros), doações e aquisições criaram e mantêm um importante acervo dessa história que a classe dominante insiste em ocultar. E, o que é mais importante, este material preservado é o de uma história que não é a história de um partido que se diz o partido da classe operária, mas sim um diálogo, não um monólogo, pelo qual as várias correntes se inseriam no movimento da classe operária e lhe influenciavam o comportamento e as atividades.
A concepção de preservação não é apenas material (o que, diga-se de passagem, já é algo transcendental num país como o Brasil); para o CEMAP preservar é discutir, refletir e difundir. Foi sob esta perspectiva, entre outras atividades, que foram constituídos vários grupos de pesquisa, dos quais o que tinha como objeto "A Oposição de Esquerda no Brasil" apresenta aqui um de seus trabalhos.
"A questão social é um caso de polícia": eis a máxima que atravessa décadas de História do Brasil e que tem sido um dos obstáculos ao trabalho daqueles que, como nós, buscam tornar presentes as experiências do passado. Foi, inclusive, a razão que nos levou. a que optássemos por primeiro publicar esta documentação quase que desaparecida e dispersa pelo país e fora dele. Pois estes textos, além de serem mostra cabal da utilização do marxismo na interpretação da luta de classes, iluminam parte importante de nosso passado e são de vital atualidade.
Os textos que abrem o volume, de Fulvio Abramo e Pierre Broué, resultado de colaboração internacional no campo da pesquisa, situam a Oposição de Esquerda a nível nacional e internacional, estabelecendo os parâmetros dentro dos quais a documentação se insere.
O primeiro documento, "Nossos propósitos ", é o editorial do número inicial do primeiro periódico oposicionista brasileiro, A Luta de Classe, em que esta coloca suas posições e divergências com o Partido Comunista do Brasil (PCB). A carta aberta de Aristides Lobo, ex-membro da direção paulista do PCB, esmiúça a política interna do partido no período da formação da Oposição. "Aos trabalhadores do Brasil" é o manifesto pelo qual a Oposição de Esquerda expõe e esclarece as razões de sua existência e do seu combate. O texto seguinte, "Esboço de uma análise da situação econômica e social do Brasil", constituiu, durante boa parte dos anos 30, base para a direção internacional do movimento trotskista em suas discussões sobre o Brasil. Dessa importante obra tivemos pista para encontrá-la numa nota de rodapé de A opção brasileira, de Mario Pedrosa, pois a edição de A Luta de Classe que originalmente a publicou foi apreendida pela polícia durante o movimento armado de outubro de 1930. Por fim, encontramos sua versão francesa na Biblioteca Nacional de Paris, que teve de ser "re-vertida" para o português. Submetido à discussão interna na Liga Comunista do Brasil, o "Esboço" teve importantes reparos feitos por S. M. (cuja identidade não pudemos estabelecer), que aqui publicamos. "Nosso caráter de fração" auxilia na compreensão das tarefas que a Oposição de Esquerda se dava enquanto fração do PCB, no sentido da reorientação de sua política. Os textos "Projeto de teses sobre a Assembléia Constituinte ", "Carta aos camaradas do Partido Comunista" e "Campanha eleitoral - Ao Partido Comunista" têm como eixo a discussão da Constituinte, tão vital nos dias que correm, passando de sua formulação teórica à consecução de um programa eleitoral. Encerrando, o "Projeto de teses sobre a situação nacional", discutido e aprovado na 1.a Conferência Nacional da Liga Comunista do Brasil, realizada de 6 a 10 de maio de 1933, texto de capital importância para a compreensão da luta de classes daquele período. Como complemento, em apêndice apresentamos os Estatutos da Liga Comunista, também aprovados na Conferência acima referida, com vistas a que se possa relacionar uma determinada forma organizativa com suas concepções políticas.
Julgamos importante, além das notas originais (que são devidamente assinaladas), inserir outras que pudessem dar conta de fatos e nomes que já não são, em boa parte, do domínio das atuais gerações.
Objetivou-se aqui deixar que os próprios trotskistas falassem por si mesmos, pondo de lado as interpretações pelas quais até hoje foram conhecidos: a dos brazilianists, freqüentemente superficiais, e a dos "historiadores" preocupados em substituir a história da classe operária pela do seu partido.
Vale lembrar que esta coletânea é apenas parte da produção teórica e política do trotskismo brasileiro, pois se cinge ao período que vai do início de seu aparecimento até o da passagem de sua condição de "oposição interna" à de organismo independente. Na medida em que nossas possibilidades de trabalho forem aumentando, o CEMAP empenhar-se-á na publicação desse outro material.
Finalmente, resta-nos mencionar e agradecer àqueles que participaram da pesquisa e que nos auxiliaram das mais diversas formas: Cristina Leme Gonçalves, Jair Norberto Rattner, Luiz Antonio Novaes, Regis Leme Gonçalves e Renato P. Martins F.O; Anna Stefania Lauff, Azis Simão, Darle Lara, Elizete R. Mitestaines, José Castilho Marques Neto, Maria Lauff Gomes, Myriam Xavier, Plinio Gomes de Mello e Vera Macedo e todos aqueles que partilham de nossas crenças.
Fulvio Abramo e Dainis Karepovs